Elias Inácio de Moraes
Em que consistiu o
método de pesquisa adotado por Kardec? Na sua época os “filósofos e homens de
ciência” – termos que ele utiliza – haviam consagrado como métodos de pesquisa a
observação e o método experimental. Estava se consolidando um paradigma epistemológico
que podemos descrever como sendo um materialismo lógico indutivista,
quantitativo, tendo como base a análise racional. Destronando pouco a pouco a Bíblia Sagrada enquanto detentora da
verdade, a ciência prosseguia “prudente e progressivamente pelos terrenos
sólidos dos algarismos e da observação, sem nada afirmar antes de ter em mãos
as provas”[1].
A palavra “cientista” havia sido utilizada pela primeira vez em 1833 e incluída
no Dicionário Oxford, da Inglaterra,
em 1834.
Graças ao novo
paradigma materialista – que excluía qualquer causa metafísica para a
explicação dos fenômenos, em oposição às explicações místicas até então
impostas pela Igreja Católica – a ciência contabilizava inúmeras conclusões
importantes, proporcionando mudanças significativas nas áreas da Astronomia, da
Física e da Química. As aplicações decorrentes dessa nova forma de fazer
ciência transformavam o mundo, como a invenção do telescópio, por Galileu
Galilei (1564-1642), a elaboração das leis da gravitação e do movimento, por
Isaac Newton (1643 – 1727), a decomposição dos elementos químicos, por
Lavoisier (1743 – 1794), a invenção da pilha voltaica por Alessandro Volta (1745
– 1827) e o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt (1736 - 1819). Foi
em meio a esse clima intelectual que o Prof. Hippolyte tomou contato com os
fenômenos das mesas que giravam, levitavam, batiam e até escreviam, caso ela
fosse pequena o suficiente para atar-lhe aos pés um lápis. “Achava-me na
posição dos incrédulos atuais, que negam porque apenas veem um fato que não
compreendem.”[2]
Ele estava, portanto,
dando atenção a fenômenos inteiramente fora da área de interesse da ciência do
seu tempo, cuja explicação eram os espíritos, o que implicava na aceitação do
metafísico, do espiritual, incompatíveis com o paradigma materialista vigente.
Embora ele se refira
ao método experimental, o que ele de fato aplica nesse primeiro momento é o
método da observação, até porque os fenômenos em análise não se sujeitavam a
qualquer tipo de experimentação sistemática.
Apliquei a essa nova ciência, como o
fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas;
observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos
procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos,
não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as
dificuldades da questão.[3]
Usando a análise
lógico-racional Kardec procedia a exclusão das hipóteses que se mostravam
insuficientes para explicar o fenômeno observado, como ele explica muito bem na
introdução de O Livro dos Espíritos.
Ao final, prevaleceu aquela explicação apontada pelo próprio fenômeno: os
espíritos. Não havia como explicar de outro modo; todas as explicações baseadas
em outros argumentos se mostravam insuficientes.
Portanto, em um
primeiro momento seu método consistia na análise racional do fenômeno com base
na observação. Foi assim que ele concluiu pela veracidade das comunicações e
pela realidade dos espíritos e do mundo espiritual. Mas comprovar a existência
dos espíritos e a sua sobrevivência após a morte parecia-lhe pouco; eram tantas
e tão relevantes as informações que eles traziam, eram tantas as implicações
que lhe parecia impossível deter-se ali. Era a descoberta de um mundo novo, o
mundo dos espíritos, e isso tinha implicações sobre a moral, a filosofia, a
religião e a ética.
Não resta dúvida de
que, diante de tanta riqueza de conhecimentos, Kardec resolveu estruturar um
corpo de doutrina filosófico-moral que fizesse face ao materialismo vigente na
sua época, talvez até mesmo como contraponto à “religião da humanidade” proposta
pelo seu contemporâneo Augusto Comte. Poucos anos antes, em 1852, Comte
publicara o seu Catecismo Positivista,
que propunha uma religião sem espíritos e sem Deus.
Na medida em que se
aprofundava a observação Kardec constatou que diferentes comunicações obtidas
sobre um mesmo assunto deixavam evidente que os espíritos não pensavam da mesma
forma, sem contar as inúmeras comunicações triviais, desprovidas de
profundidade e até mesmo fúteis, que ele fazia questão de excluir de pronto.
Apenas como exemplo, na França os espíritos falavam com naturalidade sobre a
reencarnação, enquanto na Inglaterra muitos até mesmo negavam essa possibilidade.
Mesmo temas bastante comuns, como o momento em que o espírito se liga ao corpo,
eram objeto de controvérsias; algumas respostas obtidas afirmavam que o
espírito se ligava ao corpo no momento do nascimento, outras, no momento da
concepção, e algumas outras, que essa ligação se dava gradativamente. Dúvidas
semelhantes havia também em relação ao personagem bíblico Adão e a diversos
conteúdos da Bíblia Sagrada.
Faltava-lhe, portanto,
um elemento fundamental: como identificar o que poderia ser considerado “verdadeiro”
e o que deveria ser considerado “falso” em meio a tantas informações
contraditórias?
Um dos primeiros resultados que colhi
das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas
dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o
saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de
adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal.[4]
Um século antes,
analisando os fenômenos relatados e as ideias apresentadas pelo médium Emanuel
Swedenborg, Kant já havia chegado à conclusão de que não era possível
considerar a manifestação dos espíritos como uma verdade, bem como também não
seria racional “negar inteiramente toda a verdade nas histórias de espíritos”.
Assim sendo, recomendava Kant, “ouse por em dúvida cada uma delas
individualmente, e ainda assim dar alguma fé a todas tomadas em conjunto”.[5]
E é nesse sentido que Kardec estabelece o segundo elemento do seu método: o
critério da concordância.
Teria Kardec se
inspirado em Kant para estabelecer o seu método de investigação da realidade
espiritual? O fato é que Kardec, conscientemente ou não, independentemente ou
não de Kant, transformou essa sua simples observação na parte mais inusitada do
seu método investigativo, e que se constituiria em algo inovador no mundo das
ciências: “a concordância que haja entre as
revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares”.[6]
Ele mesmo explica o
modo como aplicava esse critério:
Sempre que se apresentava ocasião eu a
aproveitava para propor algumas das questões que me pareciam mais espinhosas.
Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a esse trabalho. Da
comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e
muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira
edição de O Livro dos Espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857.[7]
A partir da publicação
dessa primeira edição ampliaram-se as suas possibilidades de aplicar esse critério
na medida em que se ampliou também a sua rede de contatos. Agora conhecido como
Allan Kardec, ele começa a receber correspondência de inúmeros grupos espíritas
espalhados pelas diversas partes do mundo – neste caso, do mundo ocidental –,
os quais lhe enviavam comunicações obtidas junto aos espíritos nesses outros
grupos.
Na posição em que nos encontramos, a
receber comunicações de perto de mil centros espíritas sérios, disseminados
pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre
que princípio se estabelece a concordância.[8]
Elevado à condição de método
de pesquisa, o critério da concordância das informações lhe possibilitava
verificar aquelas comunicações que apresentavam semelhança de significado e,
mediante a comparação, inferir a respeito do seu conteúdo.
A esse respeito Luiz
Signates comenta:
Vemos aí Kardec como um precursor de uma
visão consensualista, que surge na filosofia no começo da década de 60 do
século passado. É uma escola da filosofia que passa a definir a verdade como um
consenso entre os especialistas. Um consenso de quem entende daquela verdade e
que a torna muito sólida sob o ponto de vista social, mas relativa, pois se os
especialistas mudam de ideia e se convencem de outra, podem eliminar a
anterior. Kardec prevê isso, que está dentro do Espiritismo, anunciado. Isso é
Kardec Omo um visionário, no meu ponto de vista.[9]
O único espírito com o
qual Kardec parece ter sido mais complacente em relação ao critério da
concordância foi o espírito que se apresentou sob o nome de Verdade, e que se colocou desde o início
como inspirador e auxiliar espiritual do seu trabalho. Tudo indica que a
relação estabelecida entre eles envolvia um forte componente emocional baseado
na confiança recíproca e, com certeza, na cumplicidade de um projeto
anteriormente traçado. Em mais de uma ocasião esse espírito demonstrou
materialmente sua presença e seu cuidado com relação ao trabalho que estava
sendo realizado por Kardec, que o tinha como um preposto direto de Jesus.
Quanto ao mais, pelo menos segundo ele mesmo declara, ele procurava aplicar
sempre o método da concordância.
Mas essa concordância
não era suficiente por si só; a sua validade dependia também de essas
informações estarem em sintonia com as novas descobertas da ciência, com as
novas conclusões a que chegavam os pesquisadores. Sem contar a dificuldade de
se atestar a identidade do espírito comunicante, ou de avaliar a interferência
do médium no conteúdo de uma determinada comunicação, questões que ele abordou
com muita propriedade em 1861 ao elaborar o seu Guia dos Médiuns e dos Evocadores, ou O Livro dos Médiuns.
Mesmo assim ele não se
intimida; elabora hipóteses, arrisca explicações, propõe teorias, desbravando o
universo das consequências filosóficas, religiosas e éticas da nova realidade
espiritual por ele comprovada. Propõe que o Espiritismo caminhe lado a lado com
a ciência, pois, “se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”.[10]
Analisando hoje a obra
de Kardec, passados cento e sessenta anos de sua primeira publicação, é
possível constatar que algumas conclusões a que ele chegou se mostraram, com o
tempo, inconsistentes. Deu-se assim com a “Uranografia Geral” apresentada no
capítulo VI de A Gênese, bem como com
a aplicação da teoria da geração espontânea, ambos comprovadamente superados
logo nas décadas seguintes. Isto ocorreu, também, com alguns tópicos de O Livro dos Espíritos, que só teriam
como ser mais amplamente desenvolvidos a partir do estabelecimento dos pilares das
ciências sociais que se consolidaram após a sua desencarnação. Isto fica
evidente, por exemplo, na análise das causas da desigualdade social, na ausência
de alguma consideração mínima às relações de dominação entre os povos, ou de um
olhar mais crítico e menos teleológico ao se referir aos conflitos bélicos, às
questões étnicas e à própria ideia de progresso.
Daí a importância dos
estudos e das pesquisas, na atualidade, em torno de todos os temas que possam
interessar a uma compreensão mais ampla da realidade espiritual a partir dos
novos paradigmas epistemológicos que vão sendo descortinados no mundo da
ciência e das novas reflexões propostas no universo da filosofia.
Deixemos, pois, o materialismo estudar as propriedades da matéria; este
estudo é indispensável, e o será tanto de fato: o espiritualismo não terá mais
do que completar o trabalho naquilo que lhe concerne.[11]
Uma compreensão
adequada do método de Kardec – e mesmo das suas limitações – possibilita entender
que o conhecimento dos espíritos não pode ter mais do que “o valor de uma
opinião pessoal”, já que eles não possuem “nem a plena sabedoria, nem a ciência
integral”.[12] Essa
compreensão ajuda a entender que mesmo a ideia de “espíritos superiores”, muito
utilizada por Kardec, tem o seu limite. Se há quem tente hoje transformar médiuns
e espíritos em oráculos, ou em detentores de uma pretensa verdade universal, o
estudo da obra kardequiana mostra que não era este o seu entendimento. Pelo
menos até onde é possível analisar o modo como ele lidava com os fenômenos espíritas,
ele entendia os médiuns como instrumentos para o intercâmbio com os espíritos, e
estes, como seres humanos livres dos limites da vida física, que traziam, por
isso, uma visão muito mais ampla de mundo e de sociedade, mas nem por isso
detentores da verdade final a respeito de qualquer assunto.
Hoje já está claro que
espíritos e humanos estamos todos, de algum modo, limitados dentro de um mesmo
horizonte espaço-temporal; que espíritos e humanos podemos estar ainda presos a
concepções que já foram ou estão sendo superadas; que mesmo os mais sábios
espíritos encontram dificuldades ao transmitir, através dos médiuns, uma parte
do seu saber; que também os médiuns apresentam limites, e que os processos
mediúnicos não substituem a necessidade de estudo e pesquisa, mediante
critérios rigorosos, dos assuntos que são do domínio da ciência e da filosofia,
e mesmo da moral e da ética.
Isso traz para o
Espiritismo a necessidade de abrir mão do imaginado privilégio da “verdade”, ou
ainda, usando termos do próprio Kardec, da “autocracia dos princípios”, reafirmando
o seu caráter dialético e progressivo e a constante necessidade de ancorar-se
na ciência, agregando a esta o seu olhar espiritual sobre os diversos fenômenos
em estudo. Isso é o que constitui, segundo Kardec, uma “garantia para a unidade
futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias”. Até porque,
como quem prevê as dificuldades que estavam ainda por vir, ele registrou que
“essa observação é que nos tem guiado até hoje e é a que nos guiará em novos
campos que o Espiritismo terá de explorar”.[13]
[1]
Kardec, Allan. A Gênese, Cap. IV item
VII. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[2]
Kardec, Allan. Obras Póstumas, pág.
324. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[3]
Kardec, Allan. Obras Póstumas, pág.
327. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[4]
Kardec, Allan. Obras Póstumas, pág.
328. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[5] Apud
Figueiredo, Paulo H. in Revelação
Espírita, item 3.4.3. Ed. MAAT, São Paulo, SP.
[6]
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Introdução, item II. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[7]
Kardec, Allan. Obras Póstumas, pág.
330. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[8]
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Introdução, item II. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[9] Signates,
Luiz A. Revista eletrônica Espiritualidade
e Sociedade, disp em www.espiritualidades.com.br
em 08/01/2018.
[10]
Kardec, Allan. A Gênese, cap. I item
55. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[11]
Kardec, Allan. Revista Espírita,
Jul/1868. Ed. IDE, Araras/SP.
[12]
Kardec, Allan. Obras Póstumas, edição
de 2005 pag. 328. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[13]
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Introdução, item II. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
amigo Elias!
ResponderExcluirum prazer enorme ter contato com pessoas como você, que escafuncham as obras imemoráveis de Kardec, buscando a melhor maneira de aproveita-la em nosso mundo íntimo.
o próprio Kardec afirma em sua obra que não estava fechada, pois carecia de tempo para eclodir no meio onde foi inserido e a partir daí disseminar pelo mundo.
seu material foi muito bem exposto. estudo sério e que mostra a necessidade de se aproveitar melhor o trabalho de pesquisa kardequiano, que foi secundado pelo Espírito verdade (plêiade de espíritos sob as ordens diretas do Cristo!), ou ainda como sugere, método de trabalho, que se levado a efeito nos dias de hoje teríamos um aproveitamento muito melhor .
o que percebo também é um completo alheamento na condução da própria doutrina.
no livro "perturbações espirituais" do Divaldo/philomeno, mostra o resultado desse alheamento, permitindo a infiltração do mal nas casas ditas como sérias, que oferecem brechas que acabam permitindo sem se suspeitarem, o sitiamento por parte desses espíritos.
com isso, se torna imperativo o conhecimento do mundo espiritual, possibilitado pela mediunidade.
mediunidade que tem como premissa básica o conhecimento do mundo espiritual, que mal estudado e pouco conhecido, oferece os problemas atuais como depressão, loucura e suicídio.
não fosse a misericórdia Divina, e a coisa estaria muito pior!
graças a Deus!
grande abraço.
Paulo Lincoln Novato
Uma das formas de comprovarmos a realidade espiritual além do senso crítico seria a mediunidade, o problema é a forma mística que a mesma vem sendo tratada nos grupos espíritas, aceita-se de tudo e fundamentalmente o erro, teses exóticas e contraditórias, esse ranso de religiossismo fundamentalista que invade o movimento espírita brasileiro onde Kardec é somente um nome e pouquíssimo lembrando preocupa-nos o futuro do Espiritismo. Parabéns amigo Elias, mais um trabalho lúcido e bem redigido.
ResponderExcluirObrigado, Paulo e Izaías, pelos comentários. Temos muito a estudar. Um abraço.
ResponderExcluirElias, em termos contemporâneos, gostaria de te dizer que 'tô chocado com o arraso' hehe.
ResponderExcluirGostei muito deste texto, acredito que apresentas aqui uma visão bem ampla sobre a racionalidade espírita a partir do método de Kardec; uma entrada excelente como contributo também ao projeto de pesquisa que te(re)mos em comum na Aephus.
Me incomodo um pouco com o discurso de oposição ao paradigma materialista etc... porque normalmente as reflexões param por aí e, no máximo, chegam aos (tbm aqui citados) exemplos de progresso físico-científicos da modernidade. O que me trouxe questões novas e estimulou foram as aproximações sobre: o estatuto de 'cientista'; a noção de verdade (e do Espírito de Verdade); o traçado diante da religião de Comte (com outras frutíferas possibilidades de discussão sobre a relação entre religiões e positivismos); o paralelo com a noção de Kant; e os pontos de inconsistência entre as obras básicas do espiritismo e determinados dados científicos.
Sobre este último ponto, você mencionou exemplos bem bons para o fim deste texto. E fiquei pensando em questões como: como é que se lida com essa atualização de concordância com a ciência? Um apêndice às obras básicas? Novas edições? E as adulterações prévias, como no caso d'A Gênese? Até que ponto uma coisa pode mesmo ser cabalmente considerada como "uma verdade nova" para que o espiritismo possa aceitá-la? Isso por si só faria o espiritismo mais aceitável cientificamente? Que outros movimentos o método de Kardec nos instigaria? Tentar reproduzir suas experiências com médiuns? Fazer a crítica ética dos postulados? Enfim, só aproveitei o ensejo das questões pelas quais seu texto me tocou neste momento hehe.
Parabéns e grato pelo belo texto!
Querido Elias, parabéns pelo texto que, em sua dimensão crítica, alcança o virtuosismo do cuidado e respeito ao contexto de Kardec, sem proselitismo beato nem agressividade estéril. Sóbrio e justo, agudo e acessível, perspicaz e criterioso, bem escrito e atento. O meio espírita necessita cada vez mais de interlocuções qualificadas e penetrantes quanto esta, privilégio nosso, seus leitores, ávidos por um universo inteligente, incomodado e convidativo. Queremos mais! Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado, meus amigos, por suas estimulantes observações.
ResponderExcluirParabéns nobre amigo Elias pelo texto consistente. E como bom pesquisador sério, debruçou-se na pesquisa e na análise dando um suporte a mais para ampliar-nos os nossos horizontes de percepção num momento que a preguiça mental não poupa nem os nossos confrades. Afinal, somos mais do que uma religião. E esse aspecto tríplice nos coloca numa posição favorável para não aceitar nada como a última palavra. Abraços fraternais!!!!
ResponderExcluirBom artigo. Só fiquei curioso para saber quais pontos equivocados, do Livro dos Espíritos, mencionados nesse trecho:
ResponderExcluir"na análise das causas da desigualdade social, na ausência de alguma consideração mínima às relações de dominação entre os povos, ou de um olhar mais crítico e menos teleológico ao se referir aos conflitos bélicos, às questões étnicas e à própria ideia de progresso"
Não vamos nos esquecer que a própria ciência é imperfeita e limitada. Já vi espíritas querendo encaixar a força o espiritismo em teorias científicas ainda não conclusivas e que, naturalmente, têm como base apenas o que a ciência conseguiu observar até hoje (a matéria). Se as teorias foram feitas para explicar apenas parte da realidade (material), é lógico que elas terão conflito com certas ideias espiritas.
Devemos consultar sempre a ciência, mas conscientes de suas limitações e levando em conta seu viés materialista, que é compreensível visto que ela só conseguiu observar a realidade material até então.
Sobre a uranografia, isso era teoria de Kardec, e não ensinamento dos espiritos, pelo que me lembro.
Obrigado pelos comentários. Publicarei em seguida artigos a respeito desses temas, mas uma análise cuidadosa nas questões de O Livro dos Espíritos já sugere algum cuidado. Um exemplo é a questão 744. Que objetivou a Providência, tornando necessária a
ResponderExcluirguerra? Resposta: “A liberdade e o progresso.” Talvez essa resposta se aplique a alguns dos conflitos da época, mas não se aplica, com certeza à quase totalidade das guerras já registradas no planeta, como a Guerra do Ópio ou, mais recentemente a Guerra do Golfo e da Síria, sem falar nas duas guerras mundiais. Quanto à Uranografia, o capítulo VI de A Gênese é apresentado por Kardec como tendo sido psicografado por Camille Flamarion sob a influência espiritual de Galileu Galilei. Obrigado por seu comentário. Se puder colocar seu nome no perfil será ótimo para nossos diálogos.