SUICÍDIO: SUA DOR, MINHA DOR, NOSSA DOR


Elias Inácio de Moraes

A morte do cantor Chester Bennington, ocorrida ainda há pouco, por si só já nos exige um sentimento de profunda solidariedade e respeito, devidos não apenas a ele e à sua família, mas a todos os seus fãs. Some-se a isso a nossa preocupação com o fato de a quantidade de ocorrências de suicídio estar aumentando no mundo inteiro.

Juntos, estes dois fatos devem fazer acender para todos nós uma luz de alerta: estudos apontam que sempre que um grande astro popular comete suicídio a quantidade de ocorrências tende a aumentar. Isso foi observado quando da morte de Marilyn Monroe, Kurt Cobain, dentre outros casos.

Na época de Allan Kardec o tema já despertava interesse, e perguntaram ao Espírito se o suicídio era sempre voluntário, ao que ele respondeu que “o louco que se mata não sabe o que faz”. [1] Sabemos que, naquela época, pelo termo “loucura” se entendia todo um leque de transtornos mentais para os quais hoje a psiquiatria adota termos mais específicos e que, conforme dados da Organização Mundial de Saúde, 90% das ocorrências de suicídio na atualidade têm a sua causa associada a “transtornos psiquiátricos”. A combinação dessas duas informações nos leva a concluir que uma pessoa que tira a sua própria vida quase sempre é alguém que sucumbe ao peso da própria dor[2], requisitando de todos nós muito mais misericórdia do que espírito de julgamento ou de censura pelo ato cometido.

Se desejamos de fato cooperar para a redução das possibilidades de ocorrência de suicídio entre aqueles que partilham a nossa convivência, será necessário compreender um pouco mais a respeito das questões envolvidas nessa temática, de modo a bem cumprirmos o nosso papel de sociedade e de família.

Podemos simplificar nossa reflexão nos seguintes tópicos:
  • Suicídio não é uma questão de escolha, é questão psiquiátrica, é questão de saúde pública. Depressão, Transtorno Bipolar e Dependência Química respondem por 90% das ocorrências de suicídio. Sob uma perspectiva espírita, tem raízes em um passado espiritual que se reflete em muito sofrimento na vida presente, e que precisa ser objeto de respeitosa atenção.
  • Não é uma questão pessoal, é uma questão social. O suicídio tem a ver com questões relacionadas à vida em família e à vida em sociedade, e afeta não apenas a vítima bem como também afeta a todos.
  • Não é uma questão de ordem moral, é uma questão de saúde mental, de sofrimento interior. A depender das experiências que nos aguardam no futuro, qualquer um de nós pode estar sujeito a experiências semelhantes, nesta ou em outras vidas. André Luiz nos adverte que nenhum de nós sabe onde nossos pés tropeçarão.[3]
  • Jovens e idosos são os grupos de maior risco por razões de relacionamento familiar e de busca de significado existencial. A família, muitas vezes, constitui o principal ambiente de provação para o espírito reencarnado.
  • A pessoa que está pensando em cometer suicídio emite sinais. É papel da família e da sociedade estar atenta a esses sinais e oferecer atenção básica ao perceber esses sinais, o que representa uma importante forma de caridade moral.
  • Ações para evitar o suicídio devem ser de natureza preventiva e envolvem tanto a família quanto a sociedade. O socorro ao infortúnio oculto é dever de todo cristão.
  • Ouvir e dar atenção à pessoa que pensa em suicídio vale muito mais que “alertas”, pregação religiosa ou censuras veladas de conotação moral. Uma medida importante pode ser ajudar a pessoa a buscar orientação profissional adequada com um psicólogo ou psiquiatra, em paralelo com algum tipo de assistência espiritual, sempre muito oportuna.
  • Diante de evidências de risco de suicídio por parte de alguém, é preciso intervir rápida e preventivamente junto à sua família e a profissionais envolvidos, como médico e psicólogo que o acompanham. Orar e agir, em todos os casos, representa sempre um binômio inseparável.
  • É importante não subestimar o sofrimento alheio, não ser insensível à dor da pessoa que pensa em tirar a própria vida. Sofrimento não se julga, a gente não sabe o que se passa na vida da pessoa, ou que experiências espirituais marcaram o seu passado.
  • Importa acolher, ouvir, compreender. Escuta, atenção e afeto continuam sendo os melhores preventivos contra o suicídio.

Além de tudo isso podemos ainda sugerir à pessoa que busque ajuda no CVV – Centro de Valorização da Vida – uma ONG que presta apoio emocional gratuito a pessoas que estão pensando em suicídio sem uma orientação religiosa específica. O CVV atende pelo telefone 188, por email, chat e Skype, 24 horas por dia, todos os dias. Muitas pessoas tiveram suas vidas salvas por terem recorrido à sua ajuda.

Portanto, diante de uma pessoa que apresente sinais de que pode vir a sucumbir às provações da vida recorrendo ao suicídio, podemos oferecer a bênção de uma oração ou da assistência espiritual, que são sempre oportunas, mas jamais esquecer de oferecer a bênção de um ouvido amigo e de um coração solidário. São inúmeras as histórias de pessoas que conseguiram sustar um ato extremo, que poderia agravar-lhes ainda mais as provações, por conta de um simples gesto de atenção ou por uma singela demonstração de afeto.

Veja mais a esse respeito com o psiquiatra Fernando Fernandes no link: https://www.youtube.com/watch?v=4hAJO2t0DBs




[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 944-a. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ, 2005.
[2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 350. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ, 2005.
[3] Xavier, Francisco C. Agenda Cristã, pelo Espírito André Luiz, lição 15. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.

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