Elias Inácio de Moraes
O melhor exemplo que conheço de pureza de coração é o de Chico quando, ainda jovem, foi levado pelo tio ao prostíbulo para conhecer o amor no seu sentido mais sensorial. Entregue a uma das belas e experientes mulheres do estabelecimento, sentiu-se inteiramente à vontade. Sentia-se tão à vontade naquele encontro de corações que logo estavam orando não apenas ele e ela, mas um grande grupo de mulheres, em uma experiência inesquecível.
Uma pessoa que não
tivesse ainda o coração puro talvez olhasse para o ambiente e as pessoas com ar
de reprovação, talvez censurasse algum comportamento, ou as roupas sensuais que
elas usavam em função do seu ofício. Ele só via a bondade das mulheres, seus conflitos,
seus anseios, sua carência de amor no sentido mais espiritual. E lhes abria o
coração sem nenhum constrangimento. Nada ali o tentava; nada daquilo lhe
perturbava a tranqüilidade de espírito, porque seu coração era puro.
Se nos nossos corações
ainda cabe algum tipo de reprovação, alguma crítica ou censura velada seja ao
que for, ou a quem quer que seja, então cabe uma avaliação de como nos achamos
em relação a essa bem aventurança de Jesus.
O Espírito São Luís,
quando indagado sobre notarmos as imperfeições alheias, observa que “tudo
depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal quando ele existe. Fora
mesmo inconveniente ver somente o bem em toda parte”.[1]
A questão é como vemos e como lidamos com o que vemos.
Muitos de nós, diante
de uma pessoa estigmatizada pelos julgamentos humanos, vemos apenas os seus
estigmas, como sinais de “imperfeição moral”. Chico via na prostituta o que
Jesus via em Maria de Magdala: uma mulher em conflito, com uma enorme sede de
amar e ser amada e um coração disposto à renúncia. Se de nossa parte ainda as
censuramos, eles apenas valorizavam o de melhor que cada uma delas trazia em si.
Com nossos
preconceitos, nossa reprovação, nós azedamos o ambiente ao nosso redor. Com sua
visão ampliada, sua compreensão para além das aparências, Chico e Jesus estimulavam
as pessoas a fazerem prevalecer o de melhor que já haviam construído em si
mesmas. E para aqueles que mostravam ainda pouca sensibilidade para as questões
do espírito Jesus apenas rogava a Deus: Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem
o que fazem.
Se desejamos desfrutar
da alegria de trazer conosco um coração purificado, comecemos por alijar do
nosso espírito qualquer tendência ao julgamento de quem quer que seja, todo e
qualquer preconceito, a educar o nosso olhar para procurar sempre o lado bom
das pessoas, das situações e das coisas, e a cultivar sempre a certeza de que é
possível construir o melhor em todas as circunstâncias, por mais adversas nos
pareçam.
Quando trabalhamos em nossa reforma intima, buscando vencer o orgulho e a tola vaidade, já vislumbramos o esboço de um coração puro.
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