O ESPIRITISMO E A "IDEOLOGIA DE GÊNERO"


Elias Inácio de Moraes

As redes sociais têm repercutido fortemente a discussão sobre se a Escola deve ou não incluir na sua pauta as conclusões a que têm chegado nesses últimos 50 anos a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia a respeito do conceito de Identidade de Gênero. Na visão de muitos Pedagogos, trabalhar desde a infância o entendimento de que os conceitos de homem e de mulher são uma construção social, e que a sociedade deve reconhecer a existência de outras orientações de gênero, pode evitar o preconceito, a homofobia e a violência contra mulheres e minorias não heterossexuais.

Essa proposta foi fortemente rechaçada pela bancada Evangélica no Congresso Nacional, que não pretende reconhecer a diversidade sexual como parte da natureza humana e nem a igualdade da mulher, tida biblicamente como inferior. Assim é que foi criado o termo pejorativo e sem cunho científico de “Ideologia de Gênero”, utilizado de maneira irônica e sob a forma de deboche, visando denegrir a imagem desse movimento do mundo da Ciência. Afirmam existir por trás disso uma tentativa de erotização das crianças e de destruição do conceito de família - a família tradicional, no caso -, associando essas discussões a questões políticas e ideológicas atualmente em pauta.

Como argumentos são apresentados recortes de trechos do Guia Escolar publicado pelo MEC totalmente distorcidos, fora do seu contexto. De outras vezes, vídeos com afirmações pseudo-científicas ou baseadas em abordagens tendenciosas, distanciadas de qualquer preocupação espiritual com os graves problemas sociais envolvidos na questão, sobretudo despreocupados com a violência de gênero, que tem causado sofrimento e mortes a tantas pessoas e famílias.

É óbvio que não vamos encontrar referências específicas a respeito deste assunto nas obras básicas da Doutrina Espírita, até porque se trata de fenômenos sociais que só recentemente têm recebido a atenção do meio científico. Entretanto, é importante considerar que as religiões dominantes possuem posições claramente definidas nesse sentido desde alguns séculos. E, infelizmente, posições extremamente preconceituosas, sem nenhuma sintonia com a proposta do Espiritismo e com o pensamento de Jesus.

Como ponto de partida é importante considerar que não existe fundamento espírita que valide qualquer tipo de discriminação das pessoas sob qualquer pretexto, especialmente com base na sua orientação sexual, seja ela qual for. Ao contrário, temos plena consciência de que um mesmo espírito pode renascer tanto em corpo masculino quanto feminino, de acordo com as suas necessidades de aprendizado, e de que não faz sentido atribuir maior relevância à questão sexual do que à capacidade que a pessoa apresenta de “amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Recentemente o palestrante espírita Haroldo Dutra, em entrevista concedida ao portal Estudo Espírita em Ação, questionado a respeito do assunto, manifestou o seu entendimento de que “essa questão demanda reflexões de múltiplos níveis” devido à complexidade envolvida. No seu entendimento, primeiramente é preciso “tomar cuidado para criar um problema que não existe”, já que algumas pessoas reencarnam sem problemas de gênero. E explicou: “se eu estabeleço uma regra geral querendo uniformizar, eu acabo trazendo uma confusão onde ela inexiste”.
Cabe, a princípio, reconhecer a relevante contribuição prestada pelo palestrante ao movimento espírita, bem como o seu sólido conhecimento doutrinário. Mas nem por isso se pode cobrar dele conhecimentos específicos da área da Sociologia ou da Pedagogia, ou que ele tenha conhecimento do teor da proposta que pretende tratar da questão de gênero nas escolas e dos seus objetivos. Nesse sentido, convém esclarecer que o projeto não pretende “uniformizar” e nem promover qualquer tipo de “confusão”. Ao contrário, o que se pretende é refletir sobre o fato de que cada pessoa é um ser diferente e, promovendo o respeito a essa diversidade, fazer face à cultura de violência de gênero, ou seja, aquela que é exercida contra mulheres, gays e transsexuais, sem nenhum outro motivo que não seja o fato de pertencerem a esse gênero.
Depreende-se, da fala do palestrante, que ele entende que o problema “inexiste” do ponto de vista da criança que “está com o gênero muito bem definido”. Esquece-se, no entanto, de que há pessoas e famílias sofrendo discriminação, preconceito e violência por parte exatamente dessas crianças que estão com o gênero “muito bem definido”, o que faz do Brasil um dos cinco países com maior quantidade de ocorrências de violência de gênero no mundo.
 Há outros palestrantes espíritas que, em abordando também o assunto, fizeram coro à preocupação manifestada por críticos da proposta no sentido de que discutir gênero na escola poderia gerar “confusão” na mente das crianças. Não é o que as pesquisas demonstram. Ao que tudo indica, esse receio deve-se muito mais ao preconceito do que a qualquer dado concreto obtido por meio de pesquisas sérias sobre o assunto.
Estudos envolvendo filhos de casais homoafetivos mediante adoção, ou filhos de casais heteroafetivos quando um dos pares assume posteriormente a sua condição de homoafetividade, dentre outros, já fornecem elementos suficientes para se concluir que esse receio é infundado. Não se observa nessas crianças nenhum tipo de conflito que possa ser atribuído a essa causa específica e nem há qualquer evidência de que discutir gênero possa influenciar uma pessoa na direção de um comportamento sexual diferente daquele que traduz sua experiência espiritual recente.
Ao contrário, existem diversos estudos que apontam graves prejuízos pessoais e coletivos de uma educação heteronormativa, como é a atualmente oferecida, pelo simples fato de que ela reproduz e mantêm a cultura de preconceito de gênero, alimentando o quadro de violência observado contra a mulher e contra a comunidade LGBTT. [1]
Um dos prejuízos, que não pode ser ignorado, afeta especialmente os alunos LGBTT que, de fato, são a minoria. Trata-se do baixo aproveitamento escolar nas fases do ensino fundamental, devido às constantes ações de bulliyng, a alta evasão escolar e o elevado índice de tentativas de suicídio no ensino médio em decorrência da violência com que são agredidos todos os dias no ambiente da escola, nas ruas e no próprio ambiente familiar. Como decorrência desse aprendizado prejudicado, grande número de pessoas LGBTT é condenada a uma situação de sub-emprego e até mesmo de prostituição como meio de sobrevivência, já que muitos são expulsos do ambiente familiar por falta de uma compreensão adequada da sua condição por parte da sua própria família.
O palestrante Haroldo Dutra, fazendo uma analogia com o adágio popular, entende que não se deve mexer “em time que está ganhando”. Este, em particular, é um argumento complicado, porque dá a impressão de que há times em jogo e que um deles está ganhando. Qual seria, então, o “time” que está ganhando? O dos heterossexuais? E o que é “ganhar” e “perder” nessa equação de sofrimento e de morte? O fato de pertencer ao grupo opressor pode ser entendido como estar “ganhando”? Nesse jogo de sofrimento e morte podemos aceitar com naturalidade a existência de “perdedores”?
Pelo contrário, é exatamente sobre esse grupo, ou seja, sobre o “time que está ganhando”, que se propõe sejam realizadas as campanhas de esclarecimento a respeito da educação de gênero, para que eles não venham a se constituir, em futuro breve, em opressores de uma população em condições de minoria, comprometendo-se diante das Leis Divinas.
Por fim, há ainda um argumento bastante presente na fala de diversos palestrantes, que é o de que “o papel da educação sexual compete à família no ambiente do lar”.
Será que os defensores dessa proposta acreditam mesmo que todas as famílias da atualidade estão preparadas para orientarem seus filhos em relação à sexualidade, à homofobia e temas relacionados? Será que eles têm conhecimento de que o principal ambiente em que ocorrem abuso e violência contra a mulher e contra homossexuais é o da própria família? Em uma sociedade onde mulheres e homossexuais estão sendo agredidos e mortos todos os dias, inclusive pelos seus próprios pais, deve-se reservar à família, com exclusividade, o papel da educação?
Ou, por outro ângulo, devem os professores e a Escola permanecerem em silêncio quando 13 mulheres e pelo menos 1 homossexual são assassinados a cada dia no Brasil? Sem contar os inúmeros casos de violência não letal como agressões físicas, estupros, inclusive estupro conjugal, abortos forçados, e o próprio assédio sexual, que tem sido banalizado como se fosse um “direito do homem” sobre as mulheres?
E o que as obras básicas da Doutrina Espírita dizem a esse respeito?
Embora a Escola propriamente dita não tenha sido objeto da atenção de Kardec, os espíritos afirmam que “só a educação poderá reformar os homens”. Para eles a sociedade tem uma parte de responsabilidade nos problemas sociais, e tem o dever de “velar pela educação moral de seus membros”. Na sua perspectiva, a melhoria das condições sociais de vida no nosso planeta depende, sobretudo, da educação.[2]
Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem?[3]
Na condição de ex-aluno da escola de Pestalozzi e de professor devotado, Kardec vê com muita clareza o papel da educação na transformação da sociedade. Para ele,
O egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação. Não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral.[4]
Para que o progresso social aconteça e se instale na Terra um ambiente que tenha como base os princípios de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, é preciso eliminar “das leis, das instituições, das religiões, da educação até os últimos vestígios dos tempos de barbárie”. [5] É preciso que todos compreendamos, como o próprio Haroldo Dutra observa, que “cada ser é um mundo à parte”, e que deve ser respeitado na sua condição. E isso só será possível pela Educação.
Portanto, uma postura espírita condizente com a proposta dos espíritos e com o Evangelho de Jesus não pode limitar-se simplesmente a uma posição ideologizada da questão de gênero, manifestando-se contra ou a favor de tal ou tal proposta apenas por ela estar ligada a este ou aquele partido, a esta ou aquela “ideologia”. É preciso analisar cuidadosamente a questão sob todos os seus aspectos, em especial sobre aqueles que se referem à dor humana que precisa ser conhecida, compreendida e aplacada.
E isso é responsabilidade de todos nós.




[1] Vide o estudo Produção científica sobre adoção por casais homossexuais no contexto brasileiro, que consolida as principais publicações a esse respeito, na revista Estudos de Psicologia, vol. 18 nº 3, Natal, Jul/Set 2013.
[2] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questões 796, 815, 872, 914. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[3] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 685. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[4] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 917. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ.
[5] Kardec, Allan. Obras Póstumas, pag. 287. Ed. FEB, Rio de Janeiro/RJ, 2005.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Concordo plenamente, talvez por muitos espíritas advirem de outras religiões, onde a questão da culpa é central, o assunto provoca tanta celeuma.
    Reprisando que Chico Xavier no pinga fogo dizia que a ciência (e por consequência o espiritismo) ainda trataria da existência de mais de dois gêneros.
    O espírito não tem gênero, mas inclina-se nesta terra com a bagagem que adquiriu e o amor entre espíritos suplanta a necessidade de rótulos e vedações físicas, baseando-se na afinidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado por comentar. A nossa tradição judaica ainda tem um peso muito grande no nosso modo de compreender a realidade à nossa volta. Continuemos estudando, debatendo. Da discussão nasce a luz. Muito obrigado.

      Excluir
  3. Interessante reflexão. Mas acho que faltou apresentar alguns conceitos e definições, para não confundir o leitor. Podeira trazer os conceitos de "ideologia", "gênero" e "ideologia de gênero", tanto aqueles apresentados em dicionários como pelos próprios idealizadores.
    Evitando confusão com outros termos correlatos e diferenciando-o das questões de gênero, identidade de gênero e respeito as minorias. Já que a proposta política da ideologia de gênero sugere que a criança deve possuir uma "liberdade" na "escolha" de seu gênero.
    Se deixarmos esses espíritos livres, sem educação, sem orientação, estaremos liberando não só a escolha do sexo, mas se querem continuar cometendo os erros de outras encarnações. Se um espírito foi um assassino ou teve algum outro vício, devemos liberar sua tendência?
    Deus conta com os pais ou responsáveis pela educação de Seus filhos para que saiam desse mundo melhores do que aqui chegaram e cumprindo o papel que Deus os confiou.
    Assim, os pais devem orientar seus filhos, sem violência, no período da infância, que esses são meninos ou meninas e tratá-los como tal. Mais tarde, na idade madura, caso queiram seguir as lembranças sutis que trazem de outra encarnação, fica por conta do livre arbítrio deles.
    Paz e Luz

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado por comentar, Artur. E me perdoe pela demora em responder. Passou batido o seu comentário, muito respeitoso, por sinal. Realmente, percebo que ficou incompleto, poderia ter definido melhor cada conceito. Como você usa um raciocínio que leva em conta o espiritual, terei prazer em dialogar a respeito. Tenho outros artigos no blog em que procuro explicitar isso melhor. De uma perspectiva espírita, espírito não tem sexo. O sexo é uma questão fisiológica. Por isso, e Kardec observa isso ainda quando da Revista Espírita em 1862, é natural que um espírito em se encarnando em um sexo diferente daquele a que estava habituado, experimente algum conflito entre o modo como se percebe e se sente e a sua fisiologia. Ou seja, o que os nossos psicólogos têm chamado de disforia de gênero é um fenômeno absolutamente natural e ninguém deve receber qualquer tipo de pressão externa em virtude disso. Casa pessoa se ajustará dentro das suas próprias condições, expectativas, experiências passadas, etc. Por isso que, do mesmo modo que não faz sentido tentar influenciar uma pessoa que nasce com a cor morena a tornar-se branco, também não faz sentido influenciar uma pessoa que se sente mais masculina que feminina, a assumir uma condição feminina porque nasceu num corpo de mulher, ou o contrário. Noto no discurso de colegas espíritas que eles acham que a gente deveria orientar a pessoa no sentido de tentar se ajustar ao novo corpo, ou de sublimar sua sexualidade. Entendo que isso parte de um entendimento equivocado a respeito da relação entre afetividade e sexualidade, com resquícios da visão católica de pecado associado às suas manifestações. Se abolirmos esse tipo de preocupação veremos que cada pessoa é um mundo e que cabe a ele ou ela definir como entende melhor equacionar as questões do seu mundo interior, sem que ninguém precise julgá-la por isso. Para os pais, em especial, é muito importante refletir sobre isso, para que não se constituam em julgadores impiedosos sobre um ou outro filho ou filha que eventualmente venha a renascer em seus lares em uma experiência dessa natureza, e que os pais devem acatar e respeitar integralmente, sem nenhum tipo de influência que cause constrangimento a pretexto de "educação". Tenho quatro filhos e lidei com isso com muita tranquilidade. Um abraço. Muito obrigado por seu interesse pelo tema.

      Excluir
  4. Respostas
    1. Obrigado por comentar. Se puder ajudar compartilhando já será um grande favor. Obrigado.

      Excluir
  5. Excelente artigo. Colocações lúcidas e coerentes. Parabéns, ganhou uma fã. Vou divulgar ;)

    ResponderExcluir
  6. Mas que artigo MARAVILHOSO! Espiritismo sem preconceitos. Esse é o caminho. Parabéns!

    ResponderExcluir
  7. Uma coisa é o respeito à diversidade sexual e ao ser humano como um todo, e outra é a ideologia de gênero. Acredito que esses assuntos ficaram muito misturados no texto pelo fato do autor ser claramente pró ideologia de gênero. Concordo que o assunto é muito novo para as ciências em geral tomarem um posicionamento unificado sobre o tema, mas discordo, como cientista social, de que as pesquisas sobre o assunto têm referendado a ideologia. Citar Kardec falando sobre educação moral e a urgente necessidade da nossa sociedade de respeitar e aceitar as diferenças não serve de embasamento para discussão sobre a ideologia de gênero . Simplesmente porque são assuntos diferentes .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo Mariana.
      O articulista confundiu ideologia de gênero com identidade de gênero. Divaldo criticou a ideologia de gênero e não identidade de gênero. Para os especialistas em transgênero não existe ideologia de gênero.

      Excluir
    2. Exatamente, Mariana! Vide o artigo que postei abaixo!

      Excluir
    3. Obrigado por comentar, Mariana.
      Talvez eu não tenha sido tão claro como gostaria.
      "Ideologia de Gênero" é apenas um termo depreciativo, criado para desacreditar os estudos relativos à Diversidade de Gênero. Não é um termo científico; ao contrário, foi criado no ambiente das religiões católica e protestante e fortemente utilizado pelos políticos evangélicos para combater o caderno Escola sem Homofobia.
      Se não fui claro, me esforçarei por explicar melhor nos meus próximos artigos.
      Meu principal propósito foi mostrar que há também aspectos espirituais envolvidos, e que não podem ser desconsiderados se quisermos ajudar a construir relações mais saudáveis entre as pessoas.
      Obrigado.

      Excluir
    4. Engraçado como as questões 200 a 202 do LE e o artigo da RE de Janeiro de 1866 "As mulheres tem alma" são completamente esquecidos nestes debates. Existe sim uma posição claro de Karde e da Doutrina em relação a manifestação física dos sexos e quaal seria o seu papel dentro de um contexto do Progresso do Espírito. Na minha opnião o debate deveria se começar por ai.

      Excluir
    5. Sinto não poder agradecer a você pelo seu nome. Essas questões se referem a outra questão, que não está em discussão neste artigo. Neste, o assunto é o uso político-ideológico do termo pejorativo "ideologia de gênero" para impedir que a diversidade sexual seja discutida nas escolas. Em outro artigo eu uso essas e mais algumas referências que você citou, não como ponto de partida, porque elas não são suficientes para dar conta dessa discussão, que não existia na época de Kardec, mas como suporte à análise doutrinária. Na Revista Espírita Kardec deixa muito claro o seu entendimento de que as múltiplas configurações de transexualidade decorrem do fato de o espírito poder alternar entre as condições masculina e feminina. Emmanuel, em Vida e Sexo, é ainda mais claro. Ele considera que, em decorrência disso, todas apresentamos uma variação de posições entre o masculino e o feminino.

      Excluir
  8. Que bom me deparar com esse texto hoje, na qual me chegou uma fala de Divaldo sobre o assunto , para 400 jovens! Há muito noto um grande conservadorismo dentro do movimento espírita, e isso me deixa muito triste, sobretudo vindo de grandes nomes do movimento, alguns até aquela admiro muito, como o Haroldo! Não que eu ache que a gente deve saber de tudo, mas se a gente não sabe, não vamos sair falando sem embasamentos e pelo senso comum, especialmente pessoas com grande influência, como Haroldo e Divaldo! Achei seu texto sensato e corajoso, condiz muito mais com o que sinto e penso! E acho (ou espero, do fundo do meu coração), que na vdd, o que falta pra eles é só um pouco mais de conhecimento da questão de gênero!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tenho comigo a certeza de que, de fato, foi apenas um comentário a respeito de algo sobre o qual não houve um estudo prévio. Nosso modelo de atuação com os nossos palestrantes leva a esse tipo de situação. Não fazemos debates, diálogos entre pensamentos diferentes, ouvindo especialistas, propondo temas para estudo antes da discussão; ao contrário, elegemos palestrantes que erigimos à condição de oráculos. Aí esse tipo de ocorrência se torna invevitável. Obrigado por comentar.

      Excluir
  9. Meu caro Elias, tudo é muito fácil de se opinar; de se fazer/construir posicionamentos quando se olha DE CIMA; de forma EXTERNA... quando a realidade em voga (saber lidar com as questões de gênero) não LHES BATERAM A PORTA. É muito fácil. Cômodo. Muito teórico. Mas quando se vive essa realidade em casa; quando temos que assumir nossos papeis de verdadeiros aprendizes do Cristianismo redivivo (o Espiritismo) aí a coisa muda. Você nos falou sobre seus quatro filhos e que lidou com isso muito bem. Aqui em casa eu também me estabeleci muito bem com o assunto. EU VIVO NA PELE DE PAI tal experienciação existencial com um de meus filhos. Não abandono o meu papel de sempre ACONSELHAR a todos segundo o que nos ilumina o roteiro Espírita. Sempre me preocupo com todos e sempre estou a recomendar que sejam SÓBRIOS - RETOS - COMPASSIVOS E AMOROSOS.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom, Fernando. Fiz uma palestra recentemente a respeito deste assunto e, ao final, um pai veio me agradecer. Estava enfrentando dificuldade de ver com naturalidade a condição sexual de seu filho, e sofria muito por isso. E, o pior, sabia que fazia sofrer também ao seu filho. Ao final da palestra ele me disse que naquele mesmo dia ele voltaria para casa e pediria perdão ao filho por todos os momentos em que ele possa ter agido com falta de compreensão. Se sentia renovado. Vejo que a falta desse tipo de informação, genuinamente espírita, faz muita falta para todos nós. Um abraço de irmão.

      Excluir
  10. Bom dia (madrugada), venho acompanhando os diversos debates sobre "ideologia de gênero"...! Devo alertar sobre um estudo pertinente ao assunto na esfera médica e que estrutura (por princípios) a fala do nobre Haroldo Dutra...! Ei-lo:
    https://www.acpeds.org/the-college-speaks/position-statements/gender-dysphoria-in-children

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Erick, obrigado por participar deste estudo.
      O artigo é bastante extenso e vou estudá-lo com cuidado.
      Ele discute uma questão muito séria, que é o "tratamento" de "Disforia de Gênero", a partir de uma perspectiva médica, perigosa, por sinal, na medida em que o médico se vê com autoridade para realizar intervenções hormonais ou cirúrgicas de consequências irreversíveis.
      Pareceu-me, até onde li, que o ator não leva em conta os estudos na área da Psicologia, da Sociologia e da Antropologia, indispensáveis para uma melhor compreensão do assunto.
      Sem falar do aspecto espiritual, muito bem abordado tanto por Allan Kardec quanto por Emmanuel, e que procuro enfatizar no meu artigo. O pressuposto do autor é exclusivamente materialista, o que pode ser útil neste caso.
      Verifiquei também que o artigo começa por outro pressuposto, neste caso, de aplicação equivocada, que é referir-se a "ideologia de gênero" como um conceito do mundo da ciência. Deixei claro em meu artigo, e quanto a isso não há dúvida, de que este é um conceito do mundo da religião e da política. "Ideologia de Gênero" é um termo depreciativo às linhas de estudo que tratam da "Diversidade de Gênero".
      Vou estudá-lo com calma, até porque esta é uma área do meu interesse, embora sob um olhar mais sociológico e espiritual.
      Obrigado por dialogar conosco.

      Excluir
  11. Muito claro e elucidativo o seu texto, Elias. Me ajudou bastante a compreender melhor esta questão tão importante à luz da doutrina. Entretanto fiquei a pensar em alguns pontos que, acredito, poderiam ser discutidos. Diz-se que o gênero é algo que é ensinado pela sociedade durante a criação e desenvolvimento do indivíduo encarnado e que sexo e orientação sexual é algo inerente à pessoa - "já nasce com ela". Sendo assim, o Estudo de Gênero visa ensinar as pessoas a não terem preconceitos, tendo uma criação menos discriminatória entre garotos e garotas. É uma forma de reduzir o preconceito. Pois bem, acredito que se as crianças forem criadas conforme este estudo, mas não tiverem a base moral que o evangelho propicia, haverão outras questões pelas quais as pessoas sofrerão discriminação. Ou seja, poderão não mais sofrer bullying por serem homossexuais, mas por serem negros, índios, deficientes e outras tantas formas de discriminação. Já com o embasamento moral, a pessoa poderia ser criada na forma tradicional e mesmo assim não teria preconceitos ou se os tiver, procurará se livrar deles através do aperfeiçoamento.
    Então, para concluir, minha opinião é a de que esta é a solução para um problema específico que desviará o preconceito para outros tipos de vítimas. Acredito que a solução definitiva é a educação moral, independente deste estudo ou não, em qualquer sociedade, para acabar com todos os preconceitos. Sei que não é fácil fazer, "mas fácil falar", apenas gosto de pensar e tentar entender melhor. Me corrija se falei algo errado. E mais uma vez, parabéns pelo texto, que me fez pensar.

    Abraço fraterno
    Juliano

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Juliano, obrigado por suas ponderações pautadas no respeito e no diálogo.
      Penso que teremos que separar uma abordagem puramente materialista da abordagem espiritual que estamos propondo. Nessa perspectiva espiritual, a identidade de gênero é influenciada pelas experiências pregressas do espírito reencarnante. Portanto, não é algo somente social; é também espiritual.
      Quanto a ensinar as crianças a não terem preconceito, esta é uma questão grave na nossa sociedade. Ainda não conseguimos vencer o preconceito racial, nem o econômico, e menos ainda o de gênero; mulheres e transexuais sofrem muito na nossa sociedade. São assassinados 12 mulheres e 1 LGBTT por dia só no Brasil.
      Penso que todo preconceito deve ser combatido.
      Vejo que as pessoas têm receio de que seus filhos "normais" possam ser influenciados por uma orientação que apresente as diversas variações de transexualidade como uma ocorrência natural. Há estudos consistentes que demonstram que não há nenhuma evidência de que isso possa vir a acontecer.
      Observo que muito do preconceito, nestes casos, apresenta fundo moral.
      Neste caso, acho muito mais interessante combatermos o preconceito visando evitar as causas de violência, contra negros, pobres, mulheres, gays, e seja o que mais que formos descobrindo.
      Creio que estamos de pleno acordo em que um mundo de paz não condiz com nenhum tipo de preconceito.
      Muito obrigado pelo seu comentário.

      Excluir
  12. Muito obrigado pelas falas, exemplos e paciência em elucidar o tema. E principalmente pelo amor e respeito ao diferente, mesmo em comentários mais agressivos. No fim a nossa consciência aponto o caminho certo. Obrigado mesmo. as pessoas trans e as que vivenciam a situação em seu ambiente mais próximo, como o meu caso, agradecem de todo o coração.

    ResponderExcluir
  13. Obrigado Elias pelo texto claro e elucidativo. Como coordenador de reuniões de estudo na casa espírita sempre nos deparamos com essas questões. Só destacaria um aspecto apontado por Emmanuel no livro Vida e Sexo: a diversidade sexual (ele não usa esse termo, se refere à homossexualidade, mas o sentido é o mesmo) só pode ser compreendida à luz da reencarnação. Esse princípio espírita, que para nós é uma realidade, consegue desmontar os argumentos extremistas e materialistas do determinismo biológico do gênero ou o gênero apenas como uma construção social. Claro que entre os estudiosos da questão de gênero há alguns posicionamentos extremistas que alimentam os preconceitos dos fundamentalistas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente. A reencarnação, já diria Kardec, é a chave para a explicação de uma imensidade de fenômenos que, sem ela, só receberiam explicações parciais. Um abraço.

      Excluir
  14. Elias I. Moraes, quando puder, veja se esse material ajuda em alguma coisa: http://www.paulosnetos.net/artigos/summary/6-ebook/674-homossexualidade-kardec-ja-falava-sobre-isso

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Paulo, acabei de ler o seu livro. Parabéns pelo excelente material que você produziu. Parabéns pela pesquisa de fôlego, não só na bibliografia espírita, mas especialmente na científica. Os casos que você relata são concludentes. Se você achar por bem trocar ideias a respeito, meu e-mail é eliasinaciomoraes@gmail.com e terei o maior prazer em dialogar a respeito dessa temática. Se você concordar, gostaria de compartilhar esse seu link.

      Excluir
  15. Como é fora de contexto se o próprio secretário do MEC em video disse que passaram meses debatendo como ensinar para crianças até que ponto a lingua de uma menina entra na boca da outra e como é isso. Eu li o DOC do mec, salvo engano 2012, entre outros roteiros de ensino, e sim, ideologia de genero é sim ferramenta comunista, falta estudo para vcs, sou espirita e ao contrário de vcs eu estudo e pesquiso, espiritismo está perdendo a essencia de indagar e investigar, estão passando vergonha. Já leu documentos e livros de vários militantes comunista influenciadores que afirma que ideologia de genero nada mais é do que ensinar crianças a fazer sexo???

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se você puder me enviar o link desse vídeo, Fernando, ficarei agradecido. Tenho visto tanto material falso circulando nas redes, apenas com a finalidade de despertar ódio político-ideológico, que vou fazer questão de conferir a autenticidade de cada material nesse sentido. Já que você estuda e pesquisa, como você mesmo afirmou acima, envio-lhe o link de um excelente material produzido por um palestrante espírita (comentário logo acima) que, com certeza, lhe será muito útil: http://www.paulosnetos.net/artigos/summary/6-ebook/674-homossexualidade-kardec-ja-falava-sobre-isso

      Excluir
  16. O que está sendo discutido na atualidade na questão de gênero é o tratamento da criança como um indivíduo que não tem uma definição sexual e que o sexo seria construído socialmente, não se colocaria os pronomes o, a, para as crianças diferenciando-as sexualmente nessa faixa etária, e sim, seria colocado o pronome x, como uma indefinição sexual para as crianças, e desde essa faixa etária assim seria ensinado nas escolas de forma precoce e sem definição sexual. A teoria de gênero foi criada pela filósofa Judith Butler causou grande polêmica na sociedade porque contradiz os estudos científicos da biologia. Enquanto espíritas sabemos que a fase de maior aprendizado dos Espíritos é a fase infantil, como colocar uma indefinição sexual para as crianças ou ensinamentos inapropriados e inadequados, pois a idade é imprópria para tal, direcionando a essa ideologia como se induzindo a essa forma de pensamento. Segundo a ciência os seres humanos, desde a sua fase infantil já traz sua concepção sexual desde o nascimento, independente se menino, se menina ou se homossexual, não escolheria ou desenvolveria essa concepção sexual socialmente com o passar dos anos. Então concordo com o espírita Haroldo Dutra sobre sua preocupação e posicionamento, o que se discute não é a discriminação de pessoas enquanto sua orientação sexual, o que se discute é a indução feita às crianças em tenra idade forçando-as a uma forma de pensamento desnecessária e imprópria. Basta recordarmos alguns eventos em prol dessa ideologia de gênero ou excesso de liberdade de pensamento que fere o pensamento da sociedade e contraria os princípios da Doutrina Espírita no que se refere a valores morais e evolução espiritual, citamos o caso daquela mãe que foi uma exposição e levou sua filha para assistir a exposição de um homem nú, até que ponto essa criança tem idade e maturidade para participar desse evento impróprio ? outra situação, em determinados municípios, o governo municipal em algumas prefeituras estavam distribuindo cartilhas com conteúdo de sexo para crianças utilizarem como aprendizado, até que ponto esse conteúdo para essa idade é apropriado, acrescentando que o conteúdo continha informações e desenhos desnecessários e inapropriados para a idade das crianças, acredito que temos que ter muito cuidado de não sermos levados por essa excessiva liberdade que pode gerar sérios prejuízos espirituais, principalmente para as crianças, achando que estamos evoluindo, então colocamos conteúdo que seriam a "modernidade" ou que achamos ser o politicamente correto, que de nada tem de correto, fico preocupado com outro movimento que diz que pedófilos são apenas doentes, de fato são doentes, tem uma doença moral, mas não são isentos da conduta enquanto indivíduos que devem respeitar o próximo como a si mesmos, principalmente crianças indefesas ou vulneráveis, até que ponto esses pensamentos são coerentes com o respeito ao próximo ? ou de se fazer ao próximo o que gostaria que se fizesse a si próprio ? Se nos deixarmos levar por essas ideologias acabamos aceitando o inaceitável como se fosse algo normal e natural, e o certo seria o errado e o errado seria o certo, confusão de valores, e até que ponto a teoria dessa filósofa Judith Butler é tão evoluída para a nossa sociedade ? acredito que o conteúdo que ela quer disseminar na sociedade tem que ser melhor analisado na ótica da ciência e na ótica da Doutrina Espírita, e não o posicionamento do expositor Haroldo Dutra, muitas vezes o que dói para nós espíritas é ouvir algo que nos contraria nossa forma de pensar, termos que buscar o que é importante para nós enquanto Espíritos imortais, pois as teorias terrenas muitas vezes não alcançam o conteúdo espiritual da Verdade que é trazido pela Espiritualidade Superior.

    ResponderExcluir
  17. O que observo na sociedade é que estão disseminando pensamentos, doutrinas ideológicas que contrariam a própria ciência, e vão na contramão da evolução dos Espíritos, pois o que aprendemos na Doutrina Espírita não é o uso excessivo e exagerado da nossa liberdade que pode gerar a libertinagem, é que temos valores a serem seguidos e não deturpados e o movimento do "politicamente correto" traz o contraditório, e todos sabemos que ninguém escapará da lei de ação e reação, então temos que nos pautar nos fundamentos da Doutrina Espírita e não em ideologias criadas por algumas pessoas que se colocam muitas vezes acima da ciência e acima de conteúdos científicos que tem ampla credibilidade .

    ResponderExcluir
  18. Prezado Euclides, perdoe-me pela demora da resposta. E muito obrigado por participar do diálogo, com argumentos tão bem formulados, por sinal.
    Tenho algumas ponderações a fazer. Farei em dois comentários, na sequência, em virtude das limitações ao tamanho do texto adotadas pelo blog:
    1 – A discussão não se resume à questão do “tratamento da criança como um indivíduo que não tem uma definição sexual”. Esta é uma das implicações do assunto, mas não é a única. Tem sido enfatizada pelos grupos religiosos que acham que o tema não deve ser discutido com as crianças. Há muitos outros aspectos, inclusive legais, como direitos, matrimônio, adoção de filhos, preconceito, discriminação, dentre outros.
    2 – A proposta de uso dos pronomes usando “x” ou “@” ou “e” de modo a deixar indefinido o gênero é uma das questões colocadas, e que não tem alcançado unanimidade. Há quem defenda que isso não é o mais importante. Mas é bom salientar que mesmo quem defende essa medida tem em vista a integridade psicológica de quem não se identifica com um ou outro dos gêneros hétero majoritários e se sente discriminado por isso.
    3 – A teoria dos gêneros, de Judith Butler, não contradiz os estudos da Biologia; apenas apresenta uma vertente que não é da alçada da Biologia, mas da Psicologia. Há quem se recuse a aceitar a teoria usando como argumento a diferenciação biológica, mas os estudos de gênero se concentram sobre os aspectos identitários, sob a ótica da Psicologia e da Sociologia, e não da Biologia. Entendo que não há contradição, mas ampliação do entendimento. Até porque a teoria dos gêneros está muito bem fundamentada do ponto de vista empírico. Há uma grande variedade de casos que a validam e isso pode ser observado mesmo no nosso meio, ou nas nossas famílias.
    4 – O Espiritismo lança luz sobre o assunto ao mostrar que não existe “escolha” do ponto de vista do ser encarnado, mas uma definição a priori enquanto espírito, antes da encarnação. Ao nascer essa definição já está feita e a conformação social se dará apenas quanto ao modo como essa definição se manifestará do ponto de vista das convenções sociais. De fato a pessoa não "escolhe" ser LGBTO, ela apenas aprende a se situar como tal na sociedade em função dos limites que já estão postos.
    5 – O equívoco é achar que existe uma “indução feita às crianças em tenra idade”. Isso foi uma argumentação maldosa da bancada da Bíblia no Congresso Nacional e nas igrejas evangélicas e em algumas católicas, replicando falas que também já haviam acontecido em outros países por parte de segmentos da sociedade que não aceitam que a homoafetividade seja tradada como ocorrência natural na experiência humana. Sob o ponto de vista desse segmento a homoafetividade deve ser entendida como transtorno psicológico que deve ser tratado. Essas pessoas não concordam com o “casamento gay”, com a adoção de crianças por casais homoafetivos e desejam reverter esses direitos conquistados pela comunidade LGBTO.

    ResponderExcluir
  19. (Continuação do comentário anterior)

    6 – A partir da ação da bancada da Bíblia e de segmentos evangélicos e católicos, e fazendo coro a movimentos em nível internacional, experimentamos uma enxurrada de fake news distorcendo inteiramente este assunto, seja denominando pejorativamente o material Escola sem Homofobia, produzido pelo MEC, de Kit Gay, seja associando de maneira absolutamente desonesta vídeos e imagens pornô ao material do MEC, na clara tentativa de associação política com o governo do PT, com o Socialismo, com o Comunismo e com o Marxismo. Aí, sim, começou a haver uma movimentação motivada por ideologia; só que uma ideologia de Direita, ou melhor, de Extrema Direita, já que contrária até mesmo à liberdade de expressão por parte da comunidade LGBTO.
    7 – O material produzido pelo MEC tinha como única finalidade orientar os professores em sala de aula no sentido de evitarem o bullying e o preconceito, que normalmente já vem das famílias, e que é um verdadeiro problema nas escolas. Há muitos jovens do Ensino Médio suicidando por se perceberem homossexuais e por não se sentirem aceitos, nem na Escola e nem na família. Os índices de evasão de pessoas LGBTO nas escolas é altíssimo em virtude do preconceito e da discriminação em sala de aula. O material do MEC tinha por objetivo ajudar a enfrentar esse problema específico. Houve uma distorção de sentido por parte da bancada evangélica com clara intenção ideológica. No que foram seguidos pelas igrejas.
    8 – O Haroldo demonstrou não ter conhecimento do assunto quando afirmou que “em time que está ganhando não se mexe”, como se houvesse algum time ganhando e outro perdendo, dando a impressão de que também ele estaria contaminado pela ideia da “indução ao comportamento homoafetivo”, presente nas fake news que circularam na época. A fala do Haroldo não foi adequada pelo fato de que neste assunto não existe um time que esteja "ganhando"; não há "times"; a questão hétero e homo não pode ser resumida a essa metáfora totalmente inadequada. Há pessoas sendo assassinadas apenas por conta da sua orientação sexual. O Brasil está na liderança desse ranking tenebroso. É preciso, sim, tratar deste assunto. E o ambiente ideal é a escola, que é o ambiente onde a ciência se afirma.
    8 – O Espiritismo caminha em par com a ciência. Sempre que esta apresenta estudos consistentes a respeito de determinada questão o Espiritismo se debruça sobre o assunto e procura estabelecer as pontes necessárias à compreensão da questão a partir de uma ótica que leve em conta o espiritual.

    Portanto, este tem sido o nosso esforço: construir essas pontes. Entendo que nós espíritas temos muito a contribuir com essa discussão, mas para isso é preciso que superemos as barreiras do preconceito que também existem entre nós, ainda que não tenham sido percebidas.

    É o que tenho a ponderar. Espero que minhas considerações o ajudem a consolidar suas posições a respeito do tema levando em conta o que nos apresenta o pensamento espírita.

    Um abraço de irmão.

    ResponderExcluir
  20. BOM DIA É UM ASSUNTO QUE MERECE TODA ATENÇÃO E ESTUDO COMIMPARCIALIDADE, TENDO QUE LEVAR EM CONSIDEREÇÃO A IDADE EM QUE A CRIANÇA DESPERTA PARA A QUESTÃO SEXUAL E VEJO POUCA OU NEMUMA FALA SOBRE ESSE MOMENTO POIS EXISTE O TEMPO DE DESENVOLVIMENTO QUE PRECISA SER LEVADO EM CONTA.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse argumento foi utilizado para impedir que fosse discutido nas escolas o material contido no programa "Escola sem homofobia", maldosamente apelidado de "Kit gay". É interessante observar que desde os sete ou oito anos que as crianças com alguma evidência de traços LGBT começam a sofrer bullyng na escola, e às vezes até mesmo agressões por parte dos colegas. Portanto, acho que foi acertada a iniciativa da equipe que idealizou o programa de incluir essa discussão a respeito do preconceito relacionado a gênero desde as primeiras séries do ensino fundamental. Penso que a rejeição por parte de alguns setores religiosos deve-se ao fato de o material tratar a homoafetividade como algo natural na experiência humana, o contraria a sua visão de que se trata de um desvio de comportamento, ou patologia. Na Bíblia que essas pessoas entendem como livro sagrado algumas os tradutores traduziram termos muito antigos como sendo "abominação" e outros termos semelhantes, por puro preconceito contra pessoas que vivem sob orientação homoafetiva. Temos ainda muito preconceito a ser superado. Obrigado por comentar.

      Excluir

Postar um comentário