Elias Inácio de Moraes
Alguns amigos
me apresentam comentários de Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá, contrários
à legalização do aborto, indagando: como ficaria a proposta de descriminalização
ante o entendimento desses dois líderes espirituais?
É interessante
esclarecer que, no contexto desses comentários, eles se referiam à legalização
do aborto como um direito da mulher, ou como método de controle da natalidade,
conforme proposto por alguns movimentos. E nesse sentido estamos todos em pleno
acordo; não há como ser a favor desse tipo de medida, que não leva em conta o
espírito reencarnante.
Ocorre que a
questão não está focada apenas nestes dois pontos. Está em discussão também a
necessidade de encontrar uma solução que seja efetiva em evitar que essa “epidemia”
de abortos continue acontecendo, de evitar que as mulheres continuem sofrendo
por terem feito um aborto, ou até mesmo perdendo a vida junto com o seu bebê.
Estamos vivendo
hoje uma cultura de banalização da vida que traz no seu rastro as mais graves
consequências do ponto de vista médico, social e espiritual. A atual política
de criminalização, que vem do século XIX - uma época marcada pelo preconceito e pela discriminação contra a mulher - não funcionou em lugar nenhum do mundo, além de dificultar
qualquer ação governamental objetivando a solução do problema. Este é um dos
motivos pelos quais ela está sendo repensada em todos os países desenvolvidos.
A Organização
Mundial de Saúde, uma instituição laica, tem se movimentado nessa área motivada
pelas mortes maternas e pelos transtornos psiquiátricos que atingem grande
número de mulheres que fazem aborto, mas nós espíritas temos, além destas, também
a motivação de defender a vida de um espírito que está tentando retornar à experiência
terrena pelos processos da reencarnação.
O fato é que
a prática do aborto de tornou um problema de saúde pública que precisa ser
enfrentado, seja em favor dos bebês que estão sendo abortados, seja pelo sofrimento
das mães que incorrem nesse ato, seja pelas mortes maternas que precisam ser
evitadas.
Seria
interessante reunir hoje os nossos líderes espirituais para, juntamente com
nossos médicos, juristas, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos e
pesquisadores de outras áreas relacionadas, construir junto com os políticos as
novas alternativas que o momento atual solicita. Mas isso requer de todos nós
uma abertura para o diálogo que não tem sido possível.
Assim sendo, fica
posto para nós, a sociedade, o desafio da busca de soluções. Mas, para cooperar
de maneira efetiva, precisaremos compreender adequadamente o significado das
opiniões emitidas por nossos líderes espirituais e buscar alternativas que
estejam, de fato, em sintonia com o seu pensamento, que é todo voltado para o
amor ao próximo, aí incluídos tanto o bebê quanto a mãe que pensa em fazer um
aborto.
Para isso teremos
que superar o atavismo que nos faz ver essa mulher como uma pessoa desprovida
de sentimentos e vê-la como uma irmã em conflito, que necessita de apoio, de
cuidados, de amparo. Até porque nenhuma mulher comete um ato tão grave contra
si mesma e contra um filho se não estiver em um estado de conflito, ou mesmo de
sofrimento, ou de desconhecimento do que seja a vida e da sua importância. E neste caso, só o acolhimento, a atenção, podem salvar essas vidas.
De fato, nem
Chico Xavier e nem Madre Teresa jamais validariam qualquer iniciativa de
legalizar o aborto como um direito da mulher, ou como um método de controle da
natalidade. Mas ninguém pode prever também o que eles responderiam hoje se lhes
fosse indagado sobre o que pensam a respeito da criminalização da mulher, ou
sobre o que acham de se estabelecer uma política de saúde pública que possa tratar da questão do
aborto às claras, como um problema social a ser enfrentado, retirando-o da
clandestinidade mediante mudanças na atual política de criminalização.
O fato é que
estamos diante de três alternativas, pelo menos em se considerando as mais
debatidas, com a possibilidade de influenciar de alguma maneira em uma dessas
direções:
1 – Manter a
atual política de criminalização da mulher e dos agentes envolvidos como forma
de desestimular o aborto, mesmo sabendo que continuarão acontecendo os abortos e as mortes maternas a eles relacionadas, e investir em prevenção da gravidez indesejada.
2 – Legalizar
o aborto como um direito da mulher sobre o próprio corpo e como dever do Estado,
sem qualquer interferência da sociedade, o que representa uma violência contra o espírito reencarnante e a exposição das mulheres a uma série de danos fisiológicos, psíquicos e espirituais.
3 – Estabelecer
políticas públicas de acolhimento, apoio e
assistência emocional à mulher que pensa em abortar visando salvar a vida do bebê e, ao mesmo tempo, poupar sofrimentos e riscos a essa mulher, com pleno respeito ao seu livre-arbítrio, sem qualquer medida de criminalização.
A questão é
avaliar qual desses três projetos está mais em sintonia com o que pensariam
espíritos como Chico Xavier e Madre Teresa.
Ou, ainda
melhor, qual destas alternativas está mais em sintonia com o pensamento de
Jesus.
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