Greta Thunberg e a Educação Infantil Espírita




O que o caso de Greta Thunberg tem a nos ensinar enquanto educação espírita para a infância? Greta Thunberg é aquela criança que surpreendeu o mundo ao discursar na Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas em set/2019.

Primeiro, ela vem de um modelo social onde o dinheiro não fala tão alto, onde todas as pessoas desfrutam de garantias mínimas de condições de vida, assistência à saúde, ensino público universal até o nível superior, proteção às liberdades civis e igualdade de gênero, inclusive para as pessoas LGBT. Na Suécia, desde cedo as crianças aprendem a cultivar valores como coletividade, independência e integridade.

Hellen Beltrame, articulista da Folha de São Paulo, destaca que “o Estado, laico, tem um compromisso sério com a coesão social e oferece proteção a indivíduos e grupos vulneráveis na sociedade, ao mesmo tempo em que maximiza a participação pública na tomada de decisões sociais.” Ou seja, a participação popular, inclusive na forma dos conselhos (que estão sendo extintos no Brasil) é largamente utilizada.

E o que nossa Educação Infantil Espírita pode aprender com este caso? Muito.

A criança sueca aprende desde cedo a exercer a sua autonomia; ela aprende que sua voz de criança também será respeitada, e que nada é mais importante que sua integridade, física e moral. Hellen Beltrame registra que a Suécia foi o primeiro país do mundo a banir, ainda nos anos 1950, a punição corporal em crianças. “Greta Thunberg cresceu - escreve ela - numa sociedade na qual a criança tem, pelo menos em algumas áreas da vida, tanto poder quanto os adultos. É comum em pré-escolas suecas que crianças de apenas dois anos façam suas refeições na forma de bufê, escolhendo o que querem comer.” Como aplicar isso na Educação Infantil Espírita?

Outro ponto a ser aprendido é quanto ao sentimento de coletividade, em contraposição ao espírito de individualismo típico da nossa sociedade capitalista. “É comum que crianças de creche se reúnam em “assembleia” para decidir democraticamente que atividade especial farão naquela semana”. E entre nós, na educação infantil espírita, existem estímulos para que as crianças decidam a respeito do que desejam estudar ou fazer? As crianças desfrutam de autonomia para escolherem as suas brincadeiras e seus jogos?

Nas escolas da Suécia, exercícios de solidariedade e pensamento coletivo também são frequentes, as crianças são estimuladas a se ajudarem mutuamente. Em uma vivência de grupo um professor colocou um bambolê no chão e perguntou às crianças quantas conseguiriam ficar de pé lá dentro ao mesmo tempo. Uma turma de sete crianças comemorava o fato de terem conseguido permanecer juntas abraçando-se e segurando umas às outras para que ninguém caísse.

Imagine o nível da reflexão social que pode emergir ao final de uma experiência como essa...

Foi essa consciência de coletividade que possibilitou que Greta Thunberg assumisse aos 11 anos, apesar de seu quadro de autismo moderado (síndrome de Asperger), um papel de protagonismo em relação ao meio-ambiente. Autorizada a fazer greve todas as sextas-feiras ela passou a protestar contra a crise climática com um cartaz de papelão feito por ela mesma frente ao Parlamento Sueco. Foi esse princípio de aceitação e valorização do diferente, como política de Estado, que lhe permitiu discursar em pleno fórum das Nações Unidas protestando contra a ideologia capitalista de um progresso econômico a qualquer custo, que tem sacrificado os interesses mais caros aos seres humanos. Ela compreendeu, desde cedo, que existem valores mais nobres a serem cultivados, que sua voz vale tanto quanto as outras e que há lugar para todos dentro do bambolê, se abrirmos espaço e nos abraçarmos.

Uma Educação Infantil Espírita, iluminada pela compreensão da nossa condição de espíritos atemporais, tem muito a aprender com o exemplo de Greta Thumberg, valorizando princípios que são também fundamentais na Doutrina Espírita, como autonomia, solidariedade, coletivismo, pluralidade, liberdade de pensamento e de expressão. Além de espíritas esclarecidos, ela coopera para o desenvolvimento de cidadãos comprometidos com o bem estar da coletividade, de tal modo que as misérias materiais e morais de hoje possam ser vistas no futuro, quando tivermos atingido o estado de civilização preconizado na questão 793 de O Livro dos Espíritos, como lembranças de um passado sombrio, já superado.

(Inspirado no artigo de Helen Beltrame-Linné publicado na Folha de São Paulo, edição de 28/09/2019)

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