A CARIDADE DO VOTO

 


A CARIDADE DO VOTO


Elias Inácio de Moraes


Mais impactante que a caridade de um auxílio imediato é a caridade do voto.


Pelo voto nós retiramos milhões de pessoas da condição de miséria, ou condenamos milhões à pobreza, à necessidade e à fome.


Pelo voto nós promovemos a educação, sobretudo das crianças das famílias pobres, ou condenamos essas mesmas crianças à ignorância, à degradação social e ao crime.


Pelo voto nós construímos milhões de moradias para os trabalhadores e para as pessoas desabrigadas, ou condenamos milhões a viverem em barracos insalubres, situados em ruas infectas, quando não a se refugiarem sob viadutos e marquises desprotegidas.


Pelo voto nós estendemos ou reduzimos as condições de assistência à saúde de milhões de famílias que não dispõem de recursos para um plano de saúde privada.


Pelo voto nós orientamos os sistemas de segurança pública para maior proteção às pessoas ou para maior violência e até extermínio contra os excluídos e os marginalizados.


Pelo voto nós priorizamos a atenção aos pobres e aos trabalhadores que sustentam a base da vida social ou priorizamos o interesse dos ricos que já desfrutam de todas as regalias proporcionadas pela vida moderna.


Embora possa não estar ao nosso alcance estender auxílio à multidão dos desassistidos, lembremo-nos de que pelo nosso voto nós ajudamos a tornar a vida dessas pessoas melhor ou pior. Se pela caridade pessoal e institucional nós socorremos algumas dezenas ou até centenas de pessoas, pelo voto nós estabelecemos as condições de vida ou até mesmo a morte de milhares ou milhões.


E sempre que ouvirmos palestrantes espíritas usando argumentos desprovidos de uma cuidadosa fundamentação científica para abordarem temas como aborto, drogas, “ideologia de gênero”, invasão de terras, liberdade, socialismo, comunismo para defender suas escolhas políticas, estejamos atentos; isto pode ser por falta de conhecimento (palestrantes espíritas às vezes falam sem conhecimento do assunto), mas também pode ser uma indisfarçável tentativa de esconder o seu apoio silencioso à apologia da tortura, à banalização do estupro, ao incentivo ao armamentismo e ao extermínio de adversários políticos, isto, sim, inaceitável à luz do Espiritismo e do Evangelho.


Pensemos nisso toda vez que pudermos exercer o nosso direito ao voto, porque tão importante quando a caridade pessoal para com aqueles que cruzam o nosso caminho é a caridade do nosso voto, porque é com o nosso voto que ajudamos ou dificultamos a vida daqueles mesmos a quem de vez em quando levamos auxílio, e é com esse mesmo voto que ajudamos a construir um mundo melhor ou pior, para nós e para todos os nossos irmãos em humanidade.


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